quinta-feira, 27 de março de 2008

Resumo

concordância verbal

“qualquer dos cônjuges podem”
Na frase: “ hoje, qualquer um dos cônjuges podem exigir a guarda dos filhos.”

A forma verbal podem da terceira pessoal do plural e inadequada, deveria ser substituída por pode
A terceira pessoa do singular e exigida pelo núcleo do sujeito (“qualquer”, pronome indefinido singular)
Outro exemplo:
“em são Paulo, o valor dos alugueis dos apartamentos de três quartos localizados em bairros nobres subiram.”
A tentação de colocar o verbo no plural e grande já que o núcleo do sujeito(“valor”) esta longe do verbo e é seguido de uma turmas de elementos no plural (“dos alugueis dos apartamentos de três quartos localizados nos bairros nobres”)

“concordância duros de engolir”

No caso da expressão “um dos que”, o certo e dizer que:
Ex: a moça e u ma das alunas mais brilhantes
Ex: ele e um dos deputados que mais trabalha
Nota-se que eles não são o mais e sim um dos mais. Essa e a lógica das frases onde o verbo só pode mesmo ir pra o plural.
Mais no nosso dia-a-dia a tendência mais que dominante e que o verbo fica no singular.
Ex: E uma das empresas que mais cresce no mercado.
Não se quer dizer que a empresa e a que mais cresce, e sim que, das que mais crescem, ela e uma.
Ou seja a frase deve ficar assim:
E uma das empresas que mais crescem no mercado.

“muitos de nos”
Na frase: “muitos de nos sabemos a verdade”
Temos ai dois pronomes (“muitos”, indefinido, e “nos”, pessoal do caso reto) no plural o que permite que o verbo concorde com qualquer um deles.
Valendo para casos semelhantes como:
Alguns de nós
Alguns de vós
Muitos de nós
Muitos de vós

“esta chovendo cenouras”
Gosto muito de desenhos animados, dos antigos. Dia desses, o danadinho do Pernalonga pronunciou a frase acima:”esta chovendo cenouras!”
“esta” ou “estão”????
Os verbos que indicam fenômenos meteorológicos como “ chover” ou “nevar” são chamados de impessoais, por isso não tem sujeito e são conjugados na terceira pessoa do singular.
Esses verbos podem ser usados em sentido figurado,” chover” pode ser usado com o sentido de “ cair da atmosfera, cair do alto em abundancia” que chove ou seja, o que cai funciona como sujeito e impõe a necessidade de concordância do verbo:”estão chovendo cenouras”.
“faz” ou “fazem” dois anos que eles se casaram?
As gramáticas dizem que, quando usado para indicar idéia de tempo transcorrido, o verbo e impessoal e, portanto, deve ser mantido sempre no singular.
O que significa isso? Que não se deve dizer”fazem dois anos que eles se casaram” e sim “ fez dois anos que eles se casaram”
Que e estabelecer o intervalo entre o momento em que se esta e o momento em que o fato ocorreu. E nesse caso que o verbo “fazer” não deve sofrer flexão.
E mais do que claro que, quando se diz”cinco anos fazem muita difrença”, não se esta querndo indicar o intervalo entre dois fatos. Então o verbo “fazer” dele sofre felxao de acordo com o seu sujeito(“cinco anos”)

“deixo claro minha posição”
No brasil e comum na fala cotidiana coisa como: “acabou as fichas”,”os menino fugiu”.

“chegou” ou “chegaram”?

“amor mora o calix santo e a hóstia sagrada”.
E correta a concordância da forma verbal”mora”?
Não deveria ser “moram”?
Que e que mora? Não e difícil perceber que os “moradores” não dois: o calix santo e a hóstia consagrada. Isso significa que e o sujeito, no caso, e composto, já que e formado por dois núcleos (“calix e hóstia”). A concordância proposta não e esta errada, na frase o sujeito e colocado depois do verbo, e nesses casos há duas opções: o verbo pode concorda com o núcleo mais próximo, que no caso e “calix”, o que justificaria a forma “mora”.
Conclui-se ,então , que são corretas frases como “chegou o diretor e os alunos” e “chegaram o diretor e os alunos”. Na primeira , há mais ênfase para a chegada do diretor já na segunda, privilegia-se o conjunto formado pelo sujeito composto(“o diretor e os alunos”).

Hoje quem paga sou eu
Já ouviu isso? Pense na concordância verbal. Há dois verbos: “paga”e “sou”. “paga” esta na terceira pessoa do singular e concorda com o pronome “quem”, “sou” esta na primeira do singular e concorda com o pronome “eu”.

Agora inverte-se a ordem da frase:” hoje sou eu quem paga”. Parece esquisito? Talvez pela falta de habito, talvez porque se queira fazer valer o verdadeiro locutor do processo expresso pelo verbo “pagar”, ou seja, aquele que efetivamente pão “eu”, no caso a concordância que mais se ouve nesse tipo de frase e nossa ordem, e hoje sou eu quem pago”. Essa não esta errado.

“passará o céu e a terra”
Carlos heitor se referiu ao que Jesus disse:
“passar o céu e a terra”. Muitos condenam dizendo que deveria ter sido “ passarão o céu e a terra”. Na verdade essa opção fica por conta de quem traduz a frase, presente no evangelho.
Na versão “o céu e a terra passarão,mais minhas palavras jamais passarão”, esta correta porque o sujeito composto esta antes do verbo.
Termos que levar em conta o efeito correto que se obtem com cada uma das formas verbais.
A opção “passará” enfatiza o núcleo mais próximo, deixa claro a superioridade do céu sobre a terra, das etéreas dobre as terrenas.

Basta ou bastam?
Na expressão “com você meu amor, uma h ora um minuto, um segundo bastam”. O verbo “basta” concorda com o segundo elemento que fecha a gradação.
Quando a expressão contem um elemento resumidor, o verbo automaticamente concorda com ele “ com você meu amor, uma hora, um minuto, um segundo, qualquer coisa, basta(e não bastam).
Singular ou plural?
“ o fechamento dos aeroportos dos estados unidos impediram o retorno do professore Pasquale, O fechamento dos aeroportos impediram...
Na verdade seria “ o fechamento dos aeroporto impediu.... “porque, o núcleo do sujeito está no singular então, o verbo deve concordar com este.
Temos que ter cuidado quando o núcleo do sujeito esta no singular , mas e seguido de vários termos no plural (“dos aeroportos nos estados unidos”), que acaso levando o falante, a flexionar o verbo no plural.
No texto: “o ministro informa, que o nível dos rios que compõem os reservatório das principais centrais elétricas... subiram”. Acontece o mesmo, devido a tantos enfeites no plural, perde-se o foco, mais o verbo deve concordar com a seqüência, ou seja”subiu”.

Os estados unidos sofreu/ invadiu/ atacou ou os estados unidos sofreram /invadiram/ atacaram?
Algumas pensam que por ser nome de pais, a concordância deve ser no singular apesar de 2 termos no plural, mais o artigo “os “exige que o verbo vá para o plural. Outro exemplo será”os Alpes se estendem”(e não se estende)
Com minas gerais o emprego do artigo”as”e facultativo, sendo ele que impõe as flexão do verbo deve-se observar os exemplos “as minas gerais produzem...” ou “minas gerais produz...”

2 comentários:

Cidadão Cão disse...

É isso aí. Tem gente que faz a diferença. Não importa se é só a Paola, só a Thaís, só a Fernanda, só a Janaína, só a Samantha ou só a Adriana. Ou se é todo mundo junto. Como diz Fernando Pessoa:
"O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão."
Um abraço.

Cidadão Cão disse...

Tabacaria

Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,

Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma conseqüência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.